Rosa Púrpura - Cap. IV

Ainda faltava algumas horas para o sol se abrir no horizonte e inundar toda a cidade. Lilith estava cansada, naquela noite não tinha se alimentado direito e sentia cansaço, seu desejo era um só: queria chegar no seu quarto e dormir. Ao mesmo tempo que se esgueira pela noite lembra de tudo pelo que passara nesta noite, da freira e dos homens, não se sentia culpada pelo que fez, muito pelo contrário se sentia limpa e leve como se estivesse feito um bem para todos. Atravessa o parque da cidade, depois do parque vinha a mata nativa e ainda tem que transpor um morro, de onde já se via o Castelete, tinha este nome por lembrar um castelo. Na verdade era uma grande mansão com varias janelas enormes protegidas com placas de aço que eram abertas somente a noite para não haver intrometidos. Lili entra pela porta da frente, no hall e entrada olha para cima vê Cláudio.

Cláudio é charmoso e Lilith nutre fortes sentimentos por ele mas sempre achou melhor guardar pra si mesma. Mesmo porque o coração do rapaz era de outra. Apesar de agora ser um vampiro ainda ama uma humana. E como todo vampiro jovem tinha sentimentos contraditórios: amor, raiva e ódio misturado a remorso e lágrimas.

Lili achava melhor esperar tudo isso passar tinha paciência talvez 50 ou 60 anos. Quem vai saber não é? Afinal tempo era o que ambos tinha de sobra, são vampiros e eternos. Por fim ela o cumprimentou:

_Olá Cláudio. Como está meu querido? Com um pulo chega até aonde ele está e o fita nos olhos. A lua ainda brilha poderosa, deixando-o ainda mais belo, ela não diz nada só o observa em sua melancolia, pois palavras não irão consolá-lo.

Cláudio tem olhos negros brilhantes. Ela o olha com carinho, considerava seu melhor amigo, talvez o único que a compreendia. “Um dia essa mulher morre e talvez ele olhe para mim”, pensava.


No salão principal, Esteban aparece ao longe e esbraveja. Ele era o braço direito de Arnmam, o senhor dos vampiros, e se achava no direito de fazer ou falar qualquer coisa, já que Arnman ficava trancado em seu quarto quase todas as noites e tinha Lilith como sua noiva uma forma conveniente de tentar manter o poder em suas mãos.

_Olá boneca? Não acha que me deve explicações? – diz nervoso e segurando-a pelo braço. Esteban fita Lili com desapontamento, Lili o olha com cinismo.

_Não...acho não! Não devo explicações a ninguém... nem a você e nem a ninguém, seu imbecil.

Ela se solta de sua mão e segue para seu quarto. Esteban detesta ser contrariado, a empurra pressionando-a na parede, Esteban é maior e mais forte que ela e seus lábios quase tocam os lábios dela, mas essa não é uma cena romântica. Muito pelo contrário os olhos dele estão a fitando diretamente os dela e os outros vampiros que dali pararam seus afazeres inúteis para olhar.

Cláudio se movimenta para tentar defende-la, Suelen uma das consortes de Arnman, o segura pelo braço:

_Você não vai até lá. Vai sobrar pra você ainda! Não seja estúpido! – sussurra ela no ouvido de Cláudio.

Esteban diz pra Lilith:

_Você é minha. Você me pertence e da próxima vez que sair sem minha permissão vai acabar como sua mãe. Entendeu?

_E você não é ninguém. Me solte você é só mais um capacho do meu pai. Só mais, um merda um grande nada! Você é um sujo e não abra a boca pra falar da minha mãe! – Irritada Lili se solta e vai para seu quarto, fechando a porta com violência.



[Continua]

Rosa Púrpura - Cap. III

Voltando ao ponto inicial agacha-se e vê a moça ainda desmaiada, da testa escorre o sangue grosso e de aroma suave. E assim, deitada, parece um anjo, com cabelos castanhos lisos, sobrancelhas finas e lábios delgados são elementos unidos numa expressão de paz. Um crucifixo grande pende do seu pescoço com uma imagem pregada e toda ornada com pedras. Lilith achava horrível tantas pessoas adorarem um homem torturado e pregado em uma cruz. Preferia outras imagens onde o via caminhando em paz, como uma que viu caminhando com crianças e era o que lhe veio a mente quando vislumbrou o crucifixo, mas não lembrava o nome da pintura.

No bolso esquerdo Lili acha uma carteira. E dentro uma imagem de Maria rezando com o terço e os documentos com o nome da moça: Anna Gloria Mendes da Irmandade das Devotas de Santa Rosa.

Também na carteira tem o telefone e o endereço. Lentamente eleva-a em seus braços cuidadosamente e sente o perfume suave, o corpo magro, delicado e quente tocando o mármore gélido que era o seu corpo. Nesta hora o que permeia o seu coração é vergonha e tristeza. Vergonha da condição de morta viva. Lili salta até um telhado depois outro, seguindo pelos postes de luz até o endereço que leu, onde topa com uma construção medieval em pedra, janelas grandes e vitrais com imagens de santos. Está na entrada principal, uma porta de carvalho rústica, imponente que não inspirava boas vindas a ninguém.

Afasta-se um pouco e salta até uma janela aberta no terceiro andar. Entra, cuida para não esbarrar em nada e ao pisar, pois mesmo o seus pequenos pezinhos fazem barulho no assoalho de madeira. Não queria acordar ninguém. No corredor, um tapete já gasto púrpura, passa pelas clausuras todas fechadas, também tinham portas de carvalho ainda mais rústicas que a porta da entrada, com a audição aguda pode ouvir as freiras umas dormindo, outras rezando. Lilith achava uma hipocrisia toda essa relação da igreja com deus ela nem mesmo entendia o que era Deus. E essa relação de celibato.

Mas alguma coisa havia mudado. Com a menina nos seus braços ela podia sentir o cheiro de pureza exalando para as suas narinas. Virou sua cabeça para a esquerda.E avista uma porta entreaberta. A clausura nº7 e entra. Só havia uma cama de ferro, um criado mudo e um rosário muito bonito, que parecia ser de ametistas, ficava ao lado de uma janela imensa que estava semiaberta e as cortinas balançam com a força e o uivo do vento frio.

Deita Anna na cama. O colchão de molas range e a menina geme um pouco, já está muito escuro, mas Anna abre os olhos e vê a imagem desfalcada de Lilith

Perto da janela sob a luz da lua, com a pele refletindo como mármore e os olhos como dois pequenos pirilampos. Conheço algumas pessoas que jurariam ser um fantasma, ou o próprio demônio, mas Anna abriu seu olhos ainda mais:

_Você é um anjo? – pergunta a menina – um anjo enviado por Deus, que me salvou. Deus me ouviu e sou agradecida – não aguentando continuar desfalece novamente. E assim que desmaia Lilith sai pela janela mergulhando na escuridão da noite.



[Continua]

Rosa Púrpura - Cap. II

Lilith se move rápida e furtivamente e, logo, já estava no chão às costas daqueles homens.

_Olha só! Três lobos mals... ai que medo.

O primeiro homem, o que segurava a mulher se virou assustado, arremessando a moça na parede, que bate a cabeça desmaia no meio do lixo e ratos, correm apavorados em busca de outro refúgio.

_O Que? – seus olhos mostram surpresa – Donde surgiu esta vadia!

_Não sei. – Diz outro homem, que está com a camisa aberta e uma suástica rústica tatuada no seu braço esquerdo a qual parecia ostentar com orgulho – Mas... parece que a diversão vai ser em dobro hoje! Hehe!

O terceiro se aproxima de Lili, que o esperava com uma das mãos na cintura e um sorriso sensual olhos fixos e cristalinos como duas safiras geladas e brilhantes. O homem se aproxima com uma faca curva na mão direita e na altura da cintura, talvez seja para assustar ou intimidá-la, coisa que não acontecerá.

_Vem aqui gostosa. – Se aproxima rapidamente. Lili abre os lábios, coloca suas mãos duras e frias em volta do seu pescoço e impulsionou-se a beijá-lo.

“Nossa!!!” Pensou consigo mesma. Pode sentir a podridão de sua alma na sua boca. Os outros riram descaradamente. E o eco de suas risadas logo se confunde com o urro de horror que segue. Pois Lili arranca a língua daquele que a beijava e a masca cuspindo fora em seguida. O homem se ajoelha de dor clamando ajuda aos seus colegas, que correram assustados.

_ É o Diabo em nossa frente! – Dizem.

O homem com a suástica, que já agoniza em dor, tem seu pescoço cortado com sua própria faca.

_Até seu sangue era ruim. – Lili sussurra pra si mesma, jogando a faca e indo na direção da rua a procura dos outros dois – E ainda por cima beija mal!!!!

Corre ligeiramente pelas ruas, usando seu olfato e sentindo o cheiro daqueles que fugiram. Até, então, parar em um semáforo onde fecha novamente os olhos.

_Hum! Se separaram um foi pra esquerda. Mas o da direita está mais perto... então é este mesmo!

Nisto já passava das dez da noite e o silêncio imperava. Ela fecha os olhos e sente... Um dos dois homens desesperados, o qual Lili persegue, tomou direção do parque. Diferente do outro bandido, que era baixo e carrancudo, este era alto e magro, de queixo fino e olhos castanhos arredondados que estão vermelhos e irritados. Correndo esbarra em um mendigo e, apavorado, se esconde próximo a uma grande pedra.

Lili o encontra com facilidade e o espreita de um galho alto. Observava que ele tem manchas roxas nos braços, os olhos trêmulos, os lábios machucados de cigarro e a pele pálida. Podia saber, era usuário de drogas, mas não compreender porque os seres humanos torturavam seus corpos e se tornavam escravos a procura de um prazer ilusório. E entendia que pelo sadismo nos olhos dele que não era primeira vez que tentava machucar uma pessoa inocente. E daquele galho nas sombras das árvores de onde olhava pula e quebra o pescoço do homem. Estava acabado, o corpo como uma lampreia viscosa estava no chão, ali tinha acabado aquela história. Mais uma de várias pessoas que Lili tinha interrompido, mas não está feliz e também não sente orgulho do ato.

Já tinha machucado outras tantas pessoas, mas agora há algo diferente e não sente mais vontade de ir atrás do outro homem.



[Continua]

Rosa Púrpura - Cap. I

Noite fria. A lua está cheia no céu e a nevoa se esgueira pelos becos escuros e húmidos da pequena cidade de La Croix. Lilith observa o céu, perdida em seus devaneios. Está no topo da igreja, seu corpo esguio e pálido arqueado sob a cruz, observa perdida a noite e sente-se entediada. Pensa consigo mesma: “já se passaram 80 anos... parece que não há mais nada a ser visto ou sentido”. Mas mal sabia ela que hoje seria uma noite especial, hoje a noite seria seu recomeço...

Ao longe um barulho estranho quebrava a harmonia do ambiente. Lili calmamente fecha os olhos, assim ouvia melhor, aguçando um dos seus sentidos.

_Hum... Murmúrio de mulher. E esta chorando... hum... tem um homem rindo... Não. São mais três... a mulher esta em perigo!

Lilith não era uma pessoa boa e sentimentos bons não fazia parte dela, mas de uma certa maneira sentiu curiosidade em ver o que estava acontecendo. Pulou os telhados e passando por um jardim, rasgou sua roupa nos espinhos de algumas rosas ali.

_ Ai droga... espero que valha o espetáculo porque a minha roupa já foi!

De cima de um muro parecia uma gata encolhida e só seus olhos brilhantes se via no beco escuro. Observava a cena que se passava.

Três homens, que mais se assemelhavam a lobos, encurralaram uma moça no beco sozinha.

Lili observava e não reagia, mas podia ouvir a jovem rezando. Com um terço na mão pedia a Deus que a protegesse. Lili não acreditava em Deus muito menos no Diabo não acreditava em nada porque seu pai a ensinou que eles mesmos eram deuses, que eles ditavam regras e que tinham poder.

_Coitada... vai morrer essa noite.

Suas capacidades extra físicas extravasaram os simples sentidos mortais. E Lili, de olhos fechados novamente, podia sentir o cheiro fedido dos homens. Álcool, cigarro com suor e sémem. Se nunca tivesse sentido este cheiro sentiria náuseas... Mas Lilith não era humana e por tudo o que ela já presenciou isto se tornou comum. Não manifestou nenhuma reação quanto ao odor deles. O que chamou sua atenção foi o cheiro da moça. Seu suor delicado misturado a medo, um leve cheiro de lavanda na roupa. E podia ainda sentir a virgindade escondida, seu olfato captava o cheiro das suas lágrimas e então Lili abriu seus olhos e viu como que pela primeira vez aquela moça que como se fosse um anjo que seria corrompido. Sensibilizada decidira.



_Vou salva-la.

[Continua]