Rosa Púrpura - Cap. III

Voltando ao ponto inicial agacha-se e vê a moça ainda desmaiada, da testa escorre o sangue grosso e de aroma suave. E assim, deitada, parece um anjo, com cabelos castanhos lisos, sobrancelhas finas e lábios delgados são elementos unidos numa expressão de paz. Um crucifixo grande pende do seu pescoço com uma imagem pregada e toda ornada com pedras. Lilith achava horrível tantas pessoas adorarem um homem torturado e pregado em uma cruz. Preferia outras imagens onde o via caminhando em paz, como uma que viu caminhando com crianças e era o que lhe veio a mente quando vislumbrou o crucifixo, mas não lembrava o nome da pintura.

No bolso esquerdo Lili acha uma carteira. E dentro uma imagem de Maria rezando com o terço e os documentos com o nome da moça: Anna Gloria Mendes da Irmandade das Devotas de Santa Rosa.

Também na carteira tem o telefone e o endereço. Lentamente eleva-a em seus braços cuidadosamente e sente o perfume suave, o corpo magro, delicado e quente tocando o mármore gélido que era o seu corpo. Nesta hora o que permeia o seu coração é vergonha e tristeza. Vergonha da condição de morta viva. Lili salta até um telhado depois outro, seguindo pelos postes de luz até o endereço que leu, onde topa com uma construção medieval em pedra, janelas grandes e vitrais com imagens de santos. Está na entrada principal, uma porta de carvalho rústica, imponente que não inspirava boas vindas a ninguém.

Afasta-se um pouco e salta até uma janela aberta no terceiro andar. Entra, cuida para não esbarrar em nada e ao pisar, pois mesmo o seus pequenos pezinhos fazem barulho no assoalho de madeira. Não queria acordar ninguém. No corredor, um tapete já gasto púrpura, passa pelas clausuras todas fechadas, também tinham portas de carvalho ainda mais rústicas que a porta da entrada, com a audição aguda pode ouvir as freiras umas dormindo, outras rezando. Lilith achava uma hipocrisia toda essa relação da igreja com deus ela nem mesmo entendia o que era Deus. E essa relação de celibato.

Mas alguma coisa havia mudado. Com a menina nos seus braços ela podia sentir o cheiro de pureza exalando para as suas narinas. Virou sua cabeça para a esquerda.E avista uma porta entreaberta. A clausura nº7 e entra. Só havia uma cama de ferro, um criado mudo e um rosário muito bonito, que parecia ser de ametistas, ficava ao lado de uma janela imensa que estava semiaberta e as cortinas balançam com a força e o uivo do vento frio.

Deita Anna na cama. O colchão de molas range e a menina geme um pouco, já está muito escuro, mas Anna abre os olhos e vê a imagem desfalcada de Lilith

Perto da janela sob a luz da lua, com a pele refletindo como mármore e os olhos como dois pequenos pirilampos. Conheço algumas pessoas que jurariam ser um fantasma, ou o próprio demônio, mas Anna abriu seu olhos ainda mais:

_Você é um anjo? – pergunta a menina – um anjo enviado por Deus, que me salvou. Deus me ouviu e sou agradecida – não aguentando continuar desfalece novamente. E assim que desmaia Lilith sai pela janela mergulhando na escuridão da noite.



[Continua]

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