Noite fria. A lua está cheia no céu e a nevoa se esgueira pelos becos escuros e húmidos da pequena cidade de La Croix. Lilith observa o céu, perdida em seus devaneios. Está no topo da igreja, seu corpo esguio e pálido arqueado sob a cruz, observa perdida a noite e sente-se entediada. Pensa consigo mesma: “já se passaram 80 anos... parece que não há mais nada a ser visto ou sentido”. Mas mal sabia ela que hoje seria uma noite especial, hoje a noite seria seu recomeço...
Ao longe um barulho estranho quebrava a harmonia do ambiente. Lili calmamente fecha os olhos, assim ouvia melhor, aguçando um dos seus sentidos.
_Hum... Murmúrio de mulher. E esta chorando... hum... tem um homem rindo... Não. São mais três... a mulher esta em perigo!
Lilith não era uma pessoa boa e sentimentos bons não fazia parte dela, mas de uma certa maneira sentiu curiosidade em ver o que estava acontecendo. Pulou os telhados e passando por um jardim, rasgou sua roupa nos espinhos de algumas rosas ali.
_ Ai droga... espero que valha o espetáculo porque a minha roupa já foi!
De cima de um muro parecia uma gata encolhida e só seus olhos brilhantes se via no beco escuro. Observava a cena que se passava.
Três homens, que mais se assemelhavam a lobos, encurralaram uma moça no beco sozinha.
Lili observava e não reagia, mas podia ouvir a jovem rezando. Com um terço na mão pedia a Deus que a protegesse. Lili não acreditava em Deus muito menos no Diabo não acreditava em nada porque seu pai a ensinou que eles mesmos eram deuses, que eles ditavam regras e que tinham poder.
_Coitada... vai morrer essa noite.
Suas capacidades extra físicas extravasaram os simples sentidos mortais. E Lili, de olhos fechados novamente, podia sentir o cheiro fedido dos homens. Álcool, cigarro com suor e sémem. Se nunca tivesse sentido este cheiro sentiria náuseas... Mas Lilith não era humana e por tudo o que ela já presenciou isto se tornou comum. Não manifestou nenhuma reação quanto ao odor deles. O que chamou sua atenção foi o cheiro da moça. Seu suor delicado misturado a medo, um leve cheiro de lavanda na roupa. E podia ainda sentir a virgindade escondida, seu olfato captava o cheiro das suas lágrimas e então Lili abriu seus olhos e viu como que pela primeira vez aquela moça que como se fosse um anjo que seria corrompido. Sensibilizada decidira.
_Vou salva-la.
[Continua]
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